Opinião
História bizarra
Por Rubens Amador
Jornalista
Era o último descendente de uma família muito rica e tradicional. Pessoa muito apreciada e procurada pelos seus amigos. Era bom de papo e um tipo fino. Mas simples, e por isto todos o apreciavam. Em toda cidade ele era uma das pessoas mais conhecidas. Mas o implacável tempo foi passando e ele tornou-se um oitentão. Junto a seus achaques naturais adquiriu um que o atormentava: passou a ter medo de doenças! Tornou-se um neurótico, por isto conhecido também, entre os que com ele privavam. Não podia ouvir alguém falar que fulano morreu de câncer de fígado que já passava a sentir a região e temer estar com a doença.
Se alguém tinha pneumonia, ele logo procurava se informar dos sintomas e os sentia também. Era um hipocondríaco clássico. Como estava muito bem de vida já se consultara com todos os médicos da cidade. Bastava alguém dizer que o Dr. X era muito bom, e ele já tirava uma consulta. Era uma pena aquilo tudo, pois na realidade ele gozava de boa saúde física e não tinha aparência de doente. Era solteirão empedernido. Embora várias moças deixassem cair suas asas sobre ele, pois tinha muito boa aparência, vestia bem, era rico e provinha de família tradicional.
Mas de nada adiantava. Ele não abria mão de seu estado civil de solteiro. O pessoal especulava: quando ele se for, para quem irá deixar toda sua fortuna em prédios? Mas ele só se preocupava mesmo era em não ficar doente. Ao chegar aos 82 anos, teve uma ideia que segundo ele iria deixá-lo feliz e seguro para o resto da vida. Teria uma longa existência a percorrer, que era só o que o preocupava. Procurou o melhor hospital da cidade e propôs: "Se me derem um apartamento em que possa viver até meus últimos dias, com hotelaria completa, assistência médica com quem quiser consultar, empregada a minha disposição para arrumar o apartamento, com limpeza geral no meu leito; três refeições por dia, acesso a todo o hospital onde poderei circular livremente visitando a conhecidos que lá fizer e receber amigos, telefone no quarto, enfermagem a hora que desejar, medicamentos, intervenções cirúrgicas com médico por mim escolhido - desde que do corpo do hospital -, e ocorrendo meu óbito este teria de ser de primeira. Em troca doarei minhas doze propriedades muito bem situadas e bem conservadas na cidade; meu carro; doarei todos os meus pertences e algumas joias pessoais que relacionarei, tudo em troca dos serviços referidos". A Mesa do Hospital pediu uma semana para uma resposta. Finalmente concordaram, só com uma exigência: que ele se submetesse a um exame completo de saúde antes de firmarem o acordo.
Prontamente ele aceitou e os seus exames de saúde foram excelentes. Realizados os trâmites legais, mudou-se logo para um belo apartamento muito bem iluminado pelo sol, no segundo piso, como exigira. Decorreram dois meses, os mais felizes de sua vida. Já quase nem pensava muito em doenças, pois tinha na sua mente a certeza de que ali estaria a salvo de problemas de saúde. Ao entrar o terceiro mês surge o primeiro sinal de que algo andava mal, pois sentia-se cansado e febril 24 horas por dia. Numa segunda-feira, como não abriu o quarto para o café matinal, usaram outra chave e abriram o aposento. Estava morto. Tinha contraído uma infecção hospitalar letal.
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